26/07/2024

Lista Forbes Melhores CIOs do Brasil: veja os 10 escolhidos

A edição 121 da Forbes Brasil, que já está disponível no aplicativo da revista, traz, pela primeira vez, a Lista Forbes Melhores CIOs.

 

Eles estão no centro do maior furação tecnológico da história da humanidade, enfrentando diariamente questões ligadas a inteligência artificial, cibersegurança, proteção de dados, cloud, data centers, machine learning e, mais recentemente, até um apagão cibernético que afetou, em vários países simultaneamente, empresas tão grandes quanto ou maiores do que aquelas que ajudam a pilotar.

 

Nesse cenário, eles são responsáveis por melhorar o fluxo de trabalho, a agilidade e a produtividade, por aperfeiçoar a comunicação interna e externa, por analisar resultados com mais rapidez e precisão e, por fim, por reduzir custos e aumentar os ganhos de suas companhias. Tudo isso para “anteontem”.

 

Conheça a seguir 10 heróis da heróis da tecnologia corporativa:

 


Foto: Victor Affaro

Odercio Claro, diretor de TI da Klabin

 

Apesar dos 30 anos de experiência nas áreas de tecnologia da informação, transformação digital e inovação, Odercio Reginaldo Claro é um novato empolgado na Klabin. É que o paulista de Santo André – com passagens pela Mercedes-Benz, Braskem e Yara – assumiu há pouco mais de dois anos o cargo de CIO da maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil. “A Klabin estava na iminência de fazer um projeto de SAP, que é o principal software que cuida do planejamento dos recursos da empresa. E eu já tinha feito algo em torno de 16 projetos assim. Eles estavam procurando alguém com senioridade, e achei interessante que tenham visto em mim esse perfil. Trazer um pouquinho da experiência de outras empresas para a Klabin é muito bacana, porque oferece a oportunidade de trazer coisas novas e, ao mesmo tempo, uma imensidão de coisas para aprender.”

 

Odercio também estava procurando mais autonomia e agilidade, afinal, em seu trabalho anterior (na norueguesa Yara, de fertilizantes), ele precisava sempre se reportar para o CIO global, e todas as tomadas de decisão levavam mais tempo para serem implementadas. O convite da Klabin, uma gigante brasileira, caiu como uma luva para seu desejo de fazer a tecnologia chegar mais rápido em todas as áreas da empresa.

 

“Vou dar um exemplo de um projeto interno. Como a gente precisava trazer uma fundação para criar uma plataforma para a TI continuar crescendo nos próximos anos, redesenhamos todo o modelo que tínhamos, porque era um modelo muito descentralizado. Na Klabin, conseguimos fazer muito rapidamente a centralização da governança para organizar as demandas de TI. Por que isso é importante? Se você não tiver uma governança em cima das ferramentas que você vai usar, o custo fica completamente inviável. Sem fazer essa fundação, essa centralização, não consigo crescer, não consigo propor coisas novas, porque o dinheiro vai ser finito”, explica.

 

Mas os olhos de Odercio brilham mesmo ao falar de dois projetos futuros. Um deles é o AI Office, um escritório de inteligência artificial cujos grandes objetivos são governar, suportar e capacitar para que todas as áreas da empresa possam tirar o melhor proveito de seus recursos, sempre pensando em uma base de dados confiável para alimentar a IA, nos cuidados com cibersegurança e nos custos.

 

O outro é chamado de Floresta Digital. “A Klabin tem 900 mil hectares de florestas. São áreas enormes, com densidade populacional quase nula e sem conectividade nenhuma. Se tiver conectividade, posso desbloquear muitas possibilidades naquela área. Posso ter máquinas autônomas trabalhando e posso fazer a manutenção dessas máquinas a distância. Floresta Digital é entregar conectividade a lugares remotos via satélite de baixa órbita. Esse projeto é nossa menina dos olhos.” (DS)

 

Formado em engenharia metalúrgica, Paulo Celso Pires, CIO da Vale, iniciou a carreira na área de pesquisa e desenvolvimento de materiais, fez mestrado em engenharia e, depois, entrou na indústria aeroespacial, onde ficou por 21 anos, cinco deles sendo responsável por um Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Engenharia da Embraer nos Estados Unidos.

 

“Não venho de uma trajetória vivenciada em tecnologia, mas acredito que aí está justamente um diferencial. Passei por diversas áreas, desde a estratégia do negócio, produção, P&D e engenharia. Essa experiência multifacetada me permitiu ter uma visão holística dos processos empresariais que acredito ser fundamental para abordar a tecnologia de uma forma menos limitada e tradicional. Minha trajetória, portanto, me fez ver a tecnologia como uma grande alavancadora de qualidade, segurança e competitividade nas empresas”, avalia o executivo.

 

Dentro da Vale, Paulo enxerga a tecnologia como uma disciplina que conecta várias áreas. “No ano passado, assumi a posição de CIO na mineradora e sigo focado em posicionar a tecnologia como uma alavancadora da competitividade, da segurança e da qualidade, como disse antes. Buscamos soluções de tecnologia para o negócio como um todo, desde a otimização de processos de compras por meio de automatização, do desenvolvimento de ferramentas de suporte para atividades da área de pessoas, por exemplo, até a implantação de inteligência artificial – que utilizamos e desenvolvemos há mais de 10 anos – para aprimorar a cadeia logística de transporte do minério, com aplicações específicas para mina, ferrovia, porto e navegação”, explica o executivo.

 

Para ele, são quatro os desafios principais do CIO. “O primeiro é lidar com a escalada de tecnologias novas, como inteligência artificial, e garantir que elas sejam aplicadas de forma correta, segura e eficiente. O segundo é democratizar o uso da tecnologia, dando liberdade e agilidade para os usuários finais criarem soluções e aplicações com ferramentas disponibilizadas pela TI. No caso da Vale, temos um programa de democratização da TI que tem esse objetivo e que acreditamos ter potencial de tornar a Vale referência em inovação. Um terceiro e igualmente importante desafio é proteger o ambiente de TI da Vale contra os ciberataques, que são frequentes. Temos um time de segurança da informação muito competente e que trabalha intensamente nessa frente. Finalizo com um desafio básico, mas que não poderia deixar de citar, que é o de nos manter sempre atualizados e acompanhando as tendências e oportunidades que a tecnologia pode trazer para o negócio.” (LP)

 

Renata Marques, CIO Latam da Natura &CO

 

Renata Marques assumiu a posição de CIO da Natura &Co em fevereiro de 2020, com o desafio de habilitar, por meio da tecnologia, a integração, a expansão e a inovação do negócio. Um trabalho um tanto complexo, em um contexto temporal instável. O novo passo foi dado poucas semanas antes de ser decretada a pandemia, ainda no período de transformação da empresa, de expansão com a compra da Avon e de integração entre The Body Shop e Aesop.

 

Em sua jornada de liderança, Renata valoriza a diversidade como fonte de inspiração e inovação, promovendo, diz ela, “uma forma de fazer negócios na qual a tecnologia está a serviço das soluções para as pessoas e para o meio ambiente”. “A tecnologia humanizada pode ser usada para melhorar a vida das pessoas e das organizações”, afirma a CIO, ciente de ser uma liderança feminina em meio a um mercado ainda dominado pelo gênero masculino.

 

Formada em processamento de dados pelo Mackenzie, com pós-graduação em administração de empresas pela Faap e MBA executivo pela Universidade de Pittsburgh-Katz, Renata lidera e apoia movimentos de mulheres na tecnologia, além de iniciativas que promovem a formação de jovens nessa área. É membro da MCIO (Mulheres CIO), Cionet (CIOs Europa e Latam) e T200 (Global Women Network). Também é cofundadora da trilha C2T da Gonew Community, que atua na formação de membros de conselhos especializados em tecnologia. Na Natura &Co, criou o MulTIplas, um grupo de trabalho para que mulheres em tecnologia sejam referência para outras.

 

Filha de pai contador e mãe professora, na adolescência seu sonho era estudar odontologia. Moradora de Mogi das Cruzes (SP), porém, aos 15 anos foi levada pelos pais para fazer um curso de computação em São Paulo. Desde então, explora o universo da tecnologia da informação. Formou-se em processamento de dados e ficou 23 anos na Monsanto, onde entrou como estagiária e saiu gerente. Passou por outras empresas, como Whirlpool e ABB. Durante sua trajetória, trabalhou em transformação digital, inovação, estratégia de dados e de cloud, alavancas culturais por meio de plataformas de colaboração, ERP e governança corporativa.

 

Com receita de R$ 26,7 bilhões (2023), a Natura tem atualmente 1,8 milhão de consultoras no Brasil e 3,5 milhões na América Latina, sendo que a venda pela chamada Consultoria de Beleza representa 80% do total. Portanto, as soluções tecnológicas estão muito voltadas a esse exército, que Renata bem conhece. “Eu acredito que simplicidade é o maior grau da sofisticação”, diz.

 

Nessa jornada de simplificação, a Natura acelerou e aperfeiçoou as soluções digitais – como o aplicativo Consultoria, que consolida todas as atividades e ferramentas de uso para a consultora.

 

Segundo Renata, a inteligência artificial vem para ampliar o repertório da consultora. “Nunca vamos tirar a relação humana da equação.” (PC)

 

Ricardo Guerra, CIO do Itaú Unibanco

 

Com quase 32 anos de casa e desde fevereiro de 2016 no cargo de CIO, Ricardo Guerra está focado em adaptar o Itaú Unibanco às “necessidades do cliente, no tempo do cliente”. Para ele, velocidade é o nome do jogo no mundo digital. “Tivemos de reescrever um complexo legado, mas não é mais sobre transformação digital. É um jogo constante, uma vez que a tecnologia muda rápido, para nos habilitar a ser cada vez mais competitivos”, afirma. O executivo é hoje o responsável por toda a plataforma tecnológica do Itaú Unibanco e também pela adoção de novas, como inteligência artificial.

 

Guerra é graduado em engenharia civil pela Escola Politécnica da USP e em administração de empresas pela FEA-USP e obteve o MBA pela Kellogg School of Management, Northwestern University. Antes de se tornar CIO, foi diretor-executivo de sistemas e arquitetura, de canais e de dados. “Atuei em diferentes frentes, passei por experiência do cliente, risco, crédito, produto e voltei para tecnologia. Mais do que conhecimento técnico, é importante entender o negócio, basear as mudanças no modelo de negócio”, afirma.

 

O Itaú Unibanco é considerado o maior banco da América Latina em total de ativos (R$ 2,78 trilhões) e valor de mercado (US$ 67,9 bilhões), com base em dados de março de 2024. Com operações de varejo na América Latina, conta com quase 96 mil funcionários no Brasil e no exterior. Um de seus primeiros e principais marcos tecnológicos se deu em 1970, com a criação de uma das quatro principais centrais de processamento de dados do país. Em 1979, foi inaugurada a Itautec e, quatro anos depois, foi lançado o primeiro caixa eletrônico do país. Em 2008, houve a fusão do Banco Itaú e do Unibanco, dando origem ao maior banco privado brasileiro. Também foi nesse ano o lançamento do primeiro app bancário. Hoje, segundo Guerra, a maior aposta de disrupção está na inteligência artificial generativa, que, entre outras oportunidades, promoverá hiperpersonalização, valorizando ainda mais os perfis comportamentais dos clientes. “O maior desafio são as pessoas. Ao longo do tempo, aprendi o quanto é importante ter um time talentoso, que faz provocação em escala para gerar fluxo de informação”, afirma o executivo. Para ele, as lideranças em tecnologia não podem ficar atrás do computador. “É preciso encarar diferentes realidades, e a capacidade de troca é fundamental. Precisamos ter conexões com esse mundo efervescente.” (PC)

 

Alaine Chachat, CIO da Reckitt na América Latina

 

Com passagens por algumas das maiores empresas de bens de consumo do mundo ao longo de seus 20 anos de experiência – entre elas, Johnson & Johnson, Unilever e Diageo –, Alaine Charchat assumiu a posição de CIO do Grupo Reckitt na América Latina em novembro de 2022. Anteriormente, a executiva havia acumulado os cargos de diretora de negócios digitais e de responsável pela tecnologia na J&J. Na Reckitt, chegou com a missão de acelerar o processo de transformação digital da multinacional britânica que completou 100 anos de Brasil em 2023.

 

Sob sua liderança, a empresa unificou as áreas de tecnologia das três unidades de negócio – higiene, saúde e nutrição –, otimizando investimentos, elevando a eficiência operacional e reduzindo a rotatividade de profissionais que atuam para marcas como Veja, Vanish, Bom Ar e Sustagen.

 

“Gerencio um budget que representa 1,5% do faturamento total da companhia e tenho um time de 50 pessoas, suportado por mais alguns parceiros de desenvolvimento, suporte e data & analytics. Somos o elo entre as áreas de Cnegócio e a estrutura global de TI, buscando sinergias nas implementações das demandas e potencializando os resultados”, explica a executiva. Sobre os desafios da cadeira de um CIO, Alaine destaca que um dos primeiros é a atualização das equipes. “Em seguida, precisamos ter muita clareza e governança dos dados para identificar onde é possível aplicar a tecnologia de forma eficiente, e aí esbarramos com o alinhamento de expectativas com as áreas de negócios.”

 

Com relação a inovações como inteligência artificial, prioridade na agenda dos CIOs, Alaine ressalta que a tecnologia pode ser um grande acelerador de eficiência e produtividade. “A IA é uma realidade para todos nós. Globalmente, executamos um [projeto] piloto em parceria com a BCG em que ilustram como a GenAI pode melhorar a produtividade e o crescimento”, afirma.

 

“Na América Latina já temos produtos implementados gerando alto retorno, como a solução para a força de vendas que faz análise histórica e recomendações, que já trouxeram crescimento de 5%. Ou soluções para as áreas de marketing, como modelos de elasticidade usando IA, que já nos permitiram ter 92% de acuracidade nos modelos aplicados, além de alguns milhões de libras em benefícios financeiros, graças à prevenção de perdas e ganho de receita. Também seguimos utilizando IA para conhecer ainda mais nossos consumidores e seguir aprimorando nossa relação, com produtos para as áreas de relacionamento com clientes”, destaca.

 

Formada em negócios pela Fundação Getulio Vargas, Alaine tem ainda uma especialização em inovação em Harvard e outra em transformação digital na Universidade da Virgínia. (LP)

 

https://forbes.com.br/forbes-tech/2024/07/lista-forbes-melhores-cios-do-brasil-veja-os-10-escolhidos/