18/01/2023

Sustentabilidade

Klabin é a única da América Latina no ‘Oscar da sustentabilidade’ global

O aguardado e exigente ranking ‘A List’, do Carbon Disclosure Project (CDP), tem apenas 12 empresas no mundo com nota máxima nos três quesitos da premiação

 

Uma das listas mais esperadas por quem acompanha sustentabilidade é a “A List”, elaborada pelo Carbon Disclosure Project (CDP), organização internacional que administra um sistema mundial de divulgação de informações ambientais por empresas, cidades, Estados e regiões. Considerado por muitos o “Oscar da Sustentabilidade”, para atender a seus rigorosos critérios não basta fazer promessas, é preciso mostrar uma estratégia consistente e factível de mudanças em um ou mais dos três principais programas – mudanças climáticas, segurança hídrica e florestas.

 

Em 2022, das 15 mil empresas que receberam alguma nota, só 330 delas alcançaram a nota máxima (A) em uma das frentes: 283 em mudanças climáticas, 25 empresas em Florestas e 103 empresas em segurança hídrica. Dessas, só 12 entraram na seleta lista ‘Triple A’, ou seja, receberam pontuação máxima nos três programas. Entre elas está a brasileira Klabin, produtora e exportadora de papel e celulose, única da América Latina a conseguir a nota máxima em todas as categorias. Como chegar lá?

 

- Plantamos 84 árvores por minuto, mantendo mais de 42% do maciço florestal preservado, sendo que a obrigação legal das empresas localizadas na Mata Atlântica é de apenas 20%. Ou seja, nós preservamos mais do que o dobro do estipulado pela lei - diz Julio Nogueira, gerente de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin.

 

- Temos preocupação com a biodiversidade. Dentro de nossos 549 mil hectares de florestas, que representam quase três vezes a área da cidade de São Paulo, foram identificadas 851 espécies de fauna e 1.920 plantas, sendo dezenas ameaçadas de extinção - relata.

 

A frente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação, que busca melhorar processos produtivos e repensar portfólio, recebe cerca de 0,5% do faturamento anual. Nas florestas, adotou, por exemplo, a prática do manejo florestal hidrossolidário, que equilibra a produção florestal e a disponibilidade de água, diminuindo o impacto em microbacias. Em gestão hídrica, desde 2004 reduziu mais de 54% a água captada em todas as suas unidades industriais.

 

Além disso, 89% de sua matriz energética é composta por fontes renováveis, com a meta de atingir 92% até 2030. Substituiu, por exemplo, óleo de combustível por gaseificação de biomassa, deixando de consumir 21,5 mil toneladas por ano de óleo.

 

A empresa já conseguiu chegar ao balanço de carbono negativo, uma vez que sequestra mais gás carbônico da atmosfera do que emite nas operações, com certificação validada pela Science Based Targets initiative (SBTi). Suas emissões totalizaram 1,3 milhão de toneladas de gás carbônico equivalente (CO2e) em 2021. Na outra ponta, capturou 12,1 milhões de toneladas de CO2e no mesmo período.

 

Hoje, com 23 unidades industriais, sendo 22 no Brasil e uma na Argentina, a Klabin produz 2,6 milhões de toneladas de papel por ano, sendo 415 mil toneladas de papéis reciclados. Isso a torna detentora de 11% do mercado de reciclagem de papel no país.

 

- Somos a maior compradora de aparas de papelão do mercado, o que fomenta ainda mais a cadeia da reciclagem e da economia circular - diz Nogueira.

 

A Klabin integra a iniciativa Business Ambition for 1,5ºC, campanha da Organização das Nações Unidas (ONU) que visa a reduzir a temperatura do planeta.

 

Rumo à economia circular

 

Também na lista “A” do CDP na categoria de proteção climática pela sétima vez consecutiva, o grupo industrial de origem alemã Thyssenkrupp, presente em 48 países, evitou, durante o ano fiscal 2021/2022, o descarte de 89% dos resíduos produzidos globalmente, encaminhando-os de volta à cadeia produtiva.

 

- Avançamos rumo à economia circular - diz José Carlos Cappuccelli, CEO da Metalúrgica Campo Limpo, especializada em virabrequins forjados e usinados, um dos encarregados em transformar as metas globais da companhia em ações locais.

 

Com vendas da ordem de € 41 bilhões por ano, e faturamento de € 905 milhões na América do Sul, a empresa produz peças automotivas, aeroespaciais, componentes para elevadores, construção civil e naval, entre outros. As plantas mais sustentáveis no Brasil são a divisão Springs & Stabilizers e a unidade comandada por Cappuccelli, ambas na cidade de São Paulo (SP), que conseguiram zerar o lixo gerado na produção em 2021.

 

A conquista foi obtida com a instalação de biodigestores, que processam resíduos orgânicos gerados nos refeitórios, além de recuperação de óleos hidráulicos e lubrificantes usados na operação, e tratamento dos efluentes líquidos. Zerar o lixo levou ao aumento da eficiência energética.

 

- Nossa planta diminuiu em 13% o consumo específico de energia por tonelada produzida (no comparativo entre 2019 e 2021), o que evitou a emissão, em média, de mais de 1.500 toneladas de CO2 por ano à atmosfera - afirma o CEO.

 

De acordo com Cappuccelli, a coleta seletiva começou a ser praticada internamente em 2002, e hoje a fábrica já cobra de parceiros ações conjuntas que possibilitem o retorno dos materiais à cadeia produtiva.

 

- Esse é um critério para a qualificação e homologação de fornecedores - afirma.

 

A companhia segue com a meta de reduzir em 30% as emissões de gases de efeito estufa de sua produção até 2030, baseadas no Acordo de Paris, e de se tornar uma empresa neutra em carbono até 2050, com investimento na produção de hidrogênio verde.

 

- Nosso negócio de eletrólise Thyssenkrupp Nucera é um dos poucos fornecedores no mundo que já possui tecnologia para produzir hidrogênio em escala industrial - diz Paulo Alvarenga, CEO da empresa para a América do Sul.

 

Com 96 mil colaboradores em todo o mundo, a empresa informa que pelo menos 3.600 desses, que trabalham em 75 localidades diferentes, se mantêm dedicados em tempo integral ao desenvolvimento de soluções tecnológicas sustentáveis, com foco nas áreas de proteção climática, transição energética, transformação digital na indústria e mobilidade do futuro.

 

Outra indústria nacional a integrar a lista do CDP, ainda que na classificação “A-”, a Votorantim Cimentos foi reconhecida pelo quinto ano consecutivo pela organização por seu programa de metas de combate às mudanças climáticas.

 

Entre 1990 e 2021, a indústria reduziu em 20% as emissões de CO2 por tonelada de cimento produzido, com adoção de iniciativas como a substituição de combustíveis fósseis que alimentam fornos de produção do cimento por materiais derivados de biomassas e resíduos, como caroços de açaí, entre outros, somada à busca de eficiência energética com uso de fontes renováveis, com hidrelétricas próprias e investimentos em energia solar e eólica, além de desenvolvimento de tecnologias e parcerias que possibilitam a integração à economia circular, estabelecendo simbiose com outras empresas.

 

Governança e processos rigorosos

 

Em 2022, o número de companhias que obtiveram nota máxima na lista aumentou 34% no mundo, quando comparado de 2021 para 2022, e no Brasil, a representatividade caiu de sete empresas para cinco. Além da Klabin, outras brasileiras estão entre as que conseguiram “A” em pelo menos uma das três categorias, a exemplo da Dexco, Suzano, Telefônica Brasil (Vivo) e Companhia Brasileira de Alumínio (CBA).

 

Para chegar à classificação, a organização analisa as informações enviadas pelas empresas, levando em consideração respostas aos três questionários: mudanças climáticas, florestas e segurança hídrica.

 

- As empresas precisam apresentar estrutura de governança para a gestão de mudanças climáticas, processos rigorosos de gerenciamento de riscos integrados à sua estratégia de negócios e planejamento financeiro - explica Fernanda Coletti, gerente de engajamento corporativo no CDP Latin America.

 

No quesito neutralização de carbono, são exigidos inventários de emissões e estabelecimento de metas de redução de curto, médio e longo prazo (Net-Zero), além da validação pela iniciativa SBTi. O questionário sobre florestas aborda conservação e reflorestamento, que devem ser certificados.

 

Já para ser bem avaliada em relação à segurança hídrica, a empresa deve provar eficiência na retirada de recursos hídricos nos locais em que opera e no tratamento de efluentes, garantindo que essas informações são medidas e monitoradas regularmente. Em todos os quesitos, o CDP observa também as metas estabelecidas, para entender como a empresa se compromete a avançar.

 

Uma mudança anunciada para o questionário 2023 é que as empresas serão solicitadas a reportar dados relacionados à presença de plásticos, no questionário relativo à segurança hídrica. Coletti relata que 103 empresas alcançaram um lugar na Lista “A” de segurança da água do CDP em 2022 – queda de 12,7% em relação às 118 empresas em 2021.

 

Ela atribui a queda a critérios mais ambiciosos estabelecidos, e recomenda àquelas que desejam figurar no topo da lista em 2023 que busquem “práticas de aquisição inteligente de água e trabalhar com governos municipais em segurança hídrica no nível da bacia hidrográfica.”

 

https://oglobo.globo.com/economia/esg/noticia/2023/01/klabin-e-a-unica-da-america-latina-no-oscar-da-sustentabilidade-global.ghtml