23/11/2025

Klabin Conclui Plano Industrial de R$ 30 Bi e Redesenha Expansão, Diz CEO

Por Vera Ondei
23/11/2025 

Cristiano Teixeira detalha os ajustes da Klabin em estrutura produtiva, rotas globais e qualificação de trabalhadores para ampliar resultados até o final da década


Cristiano Teixeira, atual CEO da Klabin, que está na empresa desde 2011

A Klabin concluiu o maior investimento de sua história recente, um plano de R$ 30 bilhões voltado à ampliação da base florestal e industrial e à modernização das fábricas, aplicados nos últimos cinco anos. As novas unidades de Ortigueira, no Paraná, com duas máquinas de papel para caixas e cartões, e a planta de embalagens em Piracicaba, no interior paulista, marcam o fim de um ciclo que incluiu também a compra da operação de papelão ondulado da International Paper no Brasil e áreas de pinus da chilena Arauco, entre outros investimentos em estruturação da companhia agroflorestal. “Esse foi o grande ciclo de investimento da nossa história”, afirma o CEO Cristiano Teixeira, um executivo experiente que está na empresa desde 2011.

A Klabin faz parte da Lista Forbes Agro100 2025, ranking anual da Forbes Brasil onde estão as 100 maiores empresas e cooperativas que atuam no país e que contam com resultados financeiros publicados. Nesta edição, o conjunto registrou uma receita de R$ 1,886 trilhão, valor equivalente a 16% do PIB brasileiro. A Klabin faturou R$ 19,6 bilhões em 2024, receita 9% acima do ciclo anterior. Nesta terça-feira (25), o Forbes Power Lunch Agro100 vai reunir empresários e lideranças do setor do Jóquei Clube, em São Paulo.

Em uma longa entrevista à Forbes Agro, Teixeira conta que com a expansão concluída, a direção da Klabin inicia uma fase de ajuste financeiro. O executivo define os próximos dois anos como um período de desalavancagem e fortalecimento de caixa. O plano é consolidar a geração de resultados antes de abrir um novo capítulo de crescimento. A meta é atingir plena capacidade de produção apontada pelos investimentos já no início de 2027. 

Um mundo para a celulose

A reorganização financeira da companhia acompanha o aumento da presença internacional. Hoje, cerca de 40% da receita vem das exportações, mas essa proporção tende a subir à medida que o mercado interno se estabiliza.

“Somos líderes em todos os segmentos em que atuamos no Brasil. O crescimento adicional virá do exterior”, diz Teixeira.

A empresa exporta para 80 países e concentra o maior volume na América Latina, Europa e Ásia. No horizonte mais distante, ele observa oportunidades em papéis para embalagem nos Estados Unidos, onde parte da capacidade instalada pode ser desativada por custo de mão de obra e atualização tecnológica.

Na Ásia, a Klabin já fornece celulose para fábricas de tissue e higiene na China, Vietnã e Índia . O radar comercial se estende a Bangladesh, Paquistão, Indonésia e Malásia, regiões em que o avanço da renda amplia o consumo de produtos industrializados e de higiene. O executivo diz que o crescimento desse tipo de demanda é acompanhado de perto. “Onde há aumento de renda, cresce o consumo de alimentos e higiene, e a embalagem está presente em tudo isso.”

Mas as exportações convivem com um ambiente internacional mais fragmentado. Teixeira avalia que as relações comerciais passam por uma etapa de incerteza, marcada por disputas tarifárias e reorganização de blocos. “Estamos em momento de turbulência. Em algum ponto haverá reequilíbrio, mas até lá existem ameaças pontuais”, afirma . Ele cita como risco a perda de relevância do Mercosul em acordos regionais e a ampliação de tratados preferenciais entre Estados Unidos e países da Ásia ou da América Latina.

Para compensar eventuais oscilações externas, a Klabin sustenta um modelo de negócios ancorado na diversidade de produtos e mercados. Um terço do faturamento vem da celulose, com destaque para a fibra longa fluff usada em fraldas e higiene; outro terço, dos papéis para embalagens de alimentos e consumo; e o restante, da conversão de embalagens no Brasil, fornecendo para indústrias como Nestlé, Unilever, JBS, Pepsi e Tetra Pak.

Brasil estratégico na conta

Na atuação doméstica, Teixeira vê o Brasil em posição estratégica nas cadeias de alimentos e florestas. “Com solo fértil, insolação e regime de chuvas favorável, o país é o mais produtivo do mundo”, afirma. No caso da celulose, ele destaca o caráter agroindustrial do setor, no qual as florestas plantadas alimentam unidades industriais de alta escala.

O Brasil tem cerca de 9,9 milhões de hectares de florestas plantadas. Está entre os 10 maiores do mundo, mas em eficiência e produtividade, o país é um líder mundial, com média de 35,7 m³/ha/ano, quase o dobro da registrada no Hemisfério Norte. Em florestas nativas, para comparação, o Brasil possui cerca de 496 milhões de hectares, 58,3% do seu território.

No entanto, para essa engrenagem funcionar azeitada, entre os riscos internos Teixeira aponta o déficit de qualificação de trabalhadores e como é necessário investir em conhecimento. A dificuldade em formar operadores e técnicos aptos a conduzir equipamentos florestais e industriais avançados é vista como um desafio de longo prazo. “A produtividade do trabalhador preocupa. Falta preparo básico e mão de obra treinada”, afirma ele.

Para enfrentar o problema, a Klabin criou uma escola técnica em Ortigueira (PR) em parceria com o governo estadual . Inspirada em modelo finlandês, a unidade forma jovens para operar colheitadeiras florestais, com garantia de emprego após a conclusão do curso. Em Telêmaco Borba, também no Paraná, um centro de formação oferece capacitação e reciclagem contínua a operadores industriais. A formação de gestores segue a mesma lógica: a empresa mantém um programa executivo com o Insper e realiza missões anuais ao Japão para aprimorar práticas de gestão e manutenção fabril.

Renda, economia prateada e e-commerce

Para Teixeira e, o equilíbrio entre produtividade florestal, tecnologia e formação de pessoas definirá a posição da empresa na próxima década. “O Brasil tem as condições naturais, mas o que sustenta essa vantagem é a capacidade de transformar conhecimento em eficiência industrial”, afirma.

Por isso, junto com a formação de mão de obra, o avanço tecnológico nas unidades produtivas acompanha esse esforço. A Klabin utiliza sistemas de sensoriamento, algoritmos e inteligência de máquina para controle de vibração, temperatura e desempenho de equipamentos. A aplicação de inteligência artificial amplia a manutenção preditiva e o aproveitamento de insumos e energia.

“A fábrica é o primeiro lugar onde testamos qualquer nova tecnologia. É ali que o ganho se multiplica”, afirma o executivo. 

Ainda em relação ao mercado interno, Teixeira sustenta que o sucesso da Klabin continua diretamente ligada ao consumo popular. Justamente porque cerca de 70% de suas embalagens abastecem supermercados. Por isso, a renda das famílias de baixa e média faixa define o ritmo de demanda, refletindo-se nos volumes vendidos às indústrias de alimentos, bebidas e higiene. “Quando a população ganha poder de compra, a produção cresce junto. É uma correlação direta”, diz Teixeira.

A transição demográfica do país também orienta parte da produção. O envelhecimento da população brasileira é um fenômeno acelerado, O censo 2022 indicava que 15% da população tinha 60 anos ou mais, ante 8,7% nos anos 2000.

Se os chamados 50 + forem levados em conta, a chamada economia prateada já movimenta por ano R$ 2 trilhões . No setor da Klabin, o envelhecimento da população impulsiona a demanda por produtos de higiene absorvente. Por exemplo, a empresa foi a primeira do mundo a instalar uma máquina dedicada exclusivamente à celulose fluff, usada nesse tipo de produto. “O envelhecimento é um fato. A tecnologia tem que acompanhar”, afirma o CEO.

Outro vetor de mudança está no comércio eletrônico, com exigência de caixas mais resistentes para o transporte e com melhor qualidade de impressão. Para esse nicho, a Klabin apostou no desenvolvimento de um papel kraftliner 100% feito com eucalipto, redução de gramatura e alta performance, segundo a companhia. “O e-commerce transformou a embalagem em vitrine . Ela precisa ser técnica e também comunicar a marca”, diz Teixeira.

#Reconhecimentos #ForbesAgro100 

Link: https://forbes.com.br/forbesagro/2025/11/klabin-conclui-plano-industrial-de-r-30-bi-e-redesenha-expansao-diz-ceo/