Klabin na mídia
31/10/2021
Sustentabilidade
'Agenda do Brasil ficará na sombra sem combate ao desmatamento'
Único latino-americano a integrar o seleto grupo Business Leaders da COP-26, Cristiano Teixeira, diretor-geral da Klabin, afirma que o Brasil precisa chegar com uma postura menos combativa e apresentar resultados e metas claras de redução de desmatamento na Conferência do Clima que começa hoje em Glasgow, na Escócia.
Teixeira está confiante de que a COP vai avançar num acordo sobre o mercado de créditos de carbono, em que poderão ser negociadas reduções de emissões e contrapartidas entre empresas e países, área na qual o Brasil tem grande potencial.
Como um dos dez Business Leaders do mundo, o papel do executivo é engajar empresas brasileiras em compromissos efetivos para evitar as mudanças climáticas. Desde o fim de 2020, ele participa de encontros periódicos com seus pares e com o presidente da COP-26, o ministro britânico Alok Sharma.
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Para Teixeira, a virada de chave do setor privado em relação ao clima veio quando os grandes fundos de investimento passaram a cobrar metas críveis e auditáveis das empresas que financiam.
Em entrevista ao GLOBO por videoconferência dois dias antes de embarcar para Glasgow, ele falou também das dificuldades de traçar cenários para a economia global e doméstica no pós-pandemia, ainda que a Klabin tenha visto seu lucro e produção de papel e celulose subirem com força nos últimos trimestres: "Investimento é um produto da confiança. E a inflação é um produto de Estado, de governo".
Como avalia o compromisso da sociedade brasileira com o tema da mudança climática? Havia um ceticismo de que as empresas fazem apenas 'greenwashing' (quando metas ambientais são usadas somente como marketing).
As questões de meio ambiente tiveram momentos no Brasil. Na Rio 92 houve bom engajamento da sociedade civil organizada. De lá para cá, tivemos uma boa onda de combate ao desmatamento ilegal até o início dos anos 2000. Principalmente depois da crise de 2008, o mundo, e aí o Brasil, entrou nessa, era um momento de recuperação econômica e algumas preocupações legítimas (como meio ambiente) ficaram em segundo plano.
""A inflação é um produto de Estado, de governo, de emissão de dinheiro ou de uma política fiscal desorientada. O empresário não gera inflação" "
Mais recentemente, o engajamento ganhou proporção muito grande com a entrada do setor financeiro, os grandes fundos tiveram uma postura mais assertiva na liberação de recursos (para as empresas). Isso trouxe o empresariado. Desse engajamento para a realidade, há uma distância.
Eu prefiro olhar pelo lado otimista de que o debate é bom em qualquer circunstância. Primeiro todo mundo fala muito, do falar vêm as cobranças, e das cobranças surgem as métricas, o acompanhamento e, talvez, mais para frente, processos transparentes de medição. Não é greenwashing per si, é um processo que empresas e sociedade civil organizada levam um tempo para adquirir.
Na última COP, o Brasil foi muito criticado ao propor a "dupla contagem" no mercado de carbono (com o corte nas emissões valendo para as metas dos dois países envolvidos na compra e venda deste crédito). Acredita numa mudança de postura?
A gente precisa reduzir a concentração desses gases na atmosfera. A atmosfera é uma só. Se a gente usa uma contabilidade que permite comercializar certificados de carbono e a resultante dela não for a real diminuição das emissões, obviamente não faz sentido. Seria um passo para trás. O termo que é muito utilizado pelos técnicos é adicionalidade.
Há empresas que terão dificuldade de fazer a mitigação (reduzir emissões). Para estes negócios, eles terão que buscar algum tipo de compensação. Se houver um mercado regulado de crédito de carbono, quem não consegue mitigar pode alcançar suas metas financiando alguém que possa de fato reter ou estocar mais carbono , mas sempre levando em consideração a adicionalidade. Vou usar o meu exemplo. A Klabin é uma empresa de papel e celulose.
Nós operamos com mais ou menos 550 mil hectares. Desses, eu preservo 240 mil de área nativa. Na fábrica, gero uma biomassa líquida que produz energia elétrica. Eu sou positivo em carbono. A Klabin tem 4,5 milhões de toneladas de carbono equivalente positivas. Posso vender esses 4,5 milhões? A princípio não, isso não é uma adicionalidade à minha operação. No regramento, vai se dizer o que pode ser adicionalidade. Por exemplo, a empresa recuperar área de pastagem para crescer a produção.
A COP vai tratar de vários temas relativos ao clima. Na questão específica de crédito de carbono, acredita em acordo?
Sim, eu tenho tido oportunidades de falar com as autoridades brasileiras, agora de uma forma mais recente, temos um ministro do Meio Ambiente, tudo indica, com uma postura bastante mais adequada, um chanceler com uma postura bastante mais adequada do que a gente vinha tendo.
Eu tenho reuniões quinzenais com o presidente Alok Sharma (presidente da COP), e a grande preocupação é o uso de carvão e óleo. Se a gente acabar imediatamente com o desmatamento na Amazônia, o que é absolutamente urgente, mas a despeito de nós pararmos ou não, do ponto de vista global, do ponto de vista de atmosfera, ele será inócuo se a gente não reduzir o uso de carvão e petróleo. É um grande desafio para a humanidade.
Em termos de emissões, 30% estão na China, 15% nos Estados Unidos, 15% na Europa. Para o Brasil chegar na COP e assumir o lugar que sempre teve, ele tem que mostrar a curva do desmatamento descendo. Se a gente está desmatando 10 mil km, portanto um Líbano por ano, e ainda mais de forma ilegal, precisa ter ação e vontade política imediata, tem que chegar nas metas que já foram anunciadas pelo Conselho da Amazônia.
Para a gente chegar com o mérito que deve ter, sendo um país de energia limpa, com 65% de nossa matriz renovável, com o etanol, a agricultura sustentável, toda essa agenda positiva vai ser colocada na sombra sem combate ao desmatamento claro e objetivo. Assuntos como o rastreamento do gado brasileiro estarão na pauta, o governo precisa dar prazo para que a pecuária brasileira rastreie seus animais. A gente espera essa agenda positiva e não uma postura combativa.
A política ambiental no país tem sido 'capenga'? Qual é o papel das grandes empresas?
A política ambiental não é capenga. Mas a postura que o governo brasileiro vem tendo ou teve, com o nosso antigo ministro do Meio Ambiente (Ricardo Salles), não foi boa. Se havia algum benefício em ter uma postura mais agressiva, eu não encontrei. O que esperamos é que qualquer empresa, principalmente as de capital aberto, que são regradas, ao divulgar uma meta de mitigação, que ela não seja autoproclamada.
""A gente precisa ter é vontade política para que deixe, por exemplo, de desmatar a Amazônia" "
Se é uma empresa que vende para o mercado global, para receber recursos de determinados fundos de investimento, que vão pedir certificações, ela já é levada a isso. Toda empresa, de uma forma ou de outra, precisa de recursos, de equity (financiamento via emissão de ações) ou de dívida. Todas vão aderir a metas como, por exemplo, da Science Based Targets Initiative (SBTi, na sigla em inglês, para metas com critérios e monitoramento por instituições científicas), que, no caso, nós temos.
Conseguimos levar a maior empresa de proteína animal do mundo, que é a JBS (a Klabin é parceira do Pacto Global da ONU em iniciativa para convidar outras companhias a aderirem às metas SBTi). Meu receio não são as empresas de capital aberto. Minha preocupação são as pequenas e médias que em muitos países do mundo são as que fazem a economia girar.
Se não adotar postura menos combativa na COP-26 nem exibir metas claras de desmatamento, o que o Brasil pode perder?
O Brasil tem absolutamente tudo para levar uma colaborativa, para sair de lá com, por exemplo, um mercado de carbono regulado. A gente precisa ter é vontade política para que deixe, por exemplo, de desmatar a Amazônia. O que se perde é estar nos grandes debates globais.
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E não podemos estar fora de um como esse, ainda mais se levarmos em consideração a biodiversidade, o estoque de água potável, a própria matriz energética, a capacidade de produção agrícola (do país), principalmente numa perspectiva de mundo com inclusão social. O Brasil faz parte do G-20, tem que estar na busca de solução, ajudando países periféricos, que não vão conseguir se adaptar.
Isso é importante também para as empresas brasileiras?
Imprescindível. Principalmente as multinacionais, que é o nosso caso. Eu não consigo isolar a Klabin do país. O Estado brasileiro tem de estar no debate, o setor privado tem de ter postura alinhada com as tendências globais. O comportamento do consumidor chinês me interessa diretamente, para a geração de riqueza para o meu acionista e para os 20 mil colaboradores que trabalham para a Klabin.
Como a companhia se planeja diante da expansão da demanda global e da alta da inflação no Brasil?
Somos metade Brasil, metade internacional (50% das vendas internas e 50% para exportação). Todo crescimento da Klabin a partir de agora tende a ser mais internacional, já temos participação de vários produtos no mercado interno de 25% a 55%.
Há o aumento do consumo de papel higiênico principalmente na Ásia. Temos ainda o papel Kraftliner, para caixa de papelão ondulado, que saltou com o crescimento do e-commerce. E os cartões usados nas embalagens cartonadas, que foram impulsionados por consumo derivado das ações anticíclicas dos governos no mundo todo.
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E o efeito de Puma II?
Iniciamos o maior investimento da nossa história, que é Puma II, em Ortigueira (PR), com o mesmo tamanho da primeira fase (1,6 milhão de toneladas de celulose) e R$ 12 bilhões em investimento. O setor de papel e celulose no Brasil talvez seja um dos com maior vantagem competitiva. O solo é bom, o regime de chuva é bom, a floresta é produtiva.
O manejo é certificado e reconhecido. E o produto feito a partir desta celulose é biodegradável ou com alta reciclabilidade. E na questão das tendências globais, o que vemos? A migração de consumo de uma embalagem de uso único, de material fóssil, como plástico, para materiais de papel que têm essa característica sustentável.
""Por mais que tenhamos que ser otimistas, a inflação tem de arrefecer. Está muito difícil fazer orçamento""
A Klabin foi afetada pela ruptura na cadeia global de insumos e de logística?
Afetou, sem dúvida. Estamos vendo uma ruptura do sistema de abastecimento global. No começo, as ações anticíclicas trouxeram crescimento em consumo de alimentos de 30% a 40%. Os estoques acabaram e faltou todo tipo de matéria-prima, inclusive a nossa. Não havia tanta capacidade ociosa em vários setores e tinha de se investir.
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E fazer exige confiança no sistema político, no país, no mundo. O investimento é um produto da confiança. E a inflação é um produto de Estado, de governo, de emissão de dinheiro ou de uma política fiscal desorientada. O empresário não gera inflação, eu reponho margem. (Após) esse momento do qual mal saímos, já entramos numa segunda ruptura, que é a da logística. Contêineres que deveriam estar em um lugar estavam em outro, navios pararam.
E hoje tem situação em que o frete para levar uma mercadoria a outro continente é maior que o (custo) do produto. Por mais que tenhamos que ser otimistas, a inflação tem de arrefecer. Está muito difícil fazer orçamento. (Para o ano que vem) foi o mais difícil que eu já fiz na minha vida.
#CristianoTeixeira #COP26