24/07/2020

Relações com Investidores e Resultados Financeiros

O papel de destaque da Klabin

Um bom termômetro para aferir a temperatura do varejo no Brasil, ainda mais no momento de crise provocado pela pandemia da Covid-19, é a produção de embalagens. A enorme procura em supermercados, somada ao crescimento do e-commerce no País após o início do isolamento social, criou um cenário positivo para a indústria de papel e celulose. Se há mais encomendas de embalagens, há aumento nas vendas. Nesse quesito, pode-se dizer que a Klabin ocupa papel de destaque. Nos primeiros três meses do ano, a companhia, que é a maior produtora e exportadora de papéis para embalagens do Brasil, cresceu 8% em volume em relação ao primeiro trimestre de 2019, com 849 mil toneladas comercializadas, performance pouco acima do observado para a toda a indústria do setor, que obteve alta de 7,5% no período. “Tanto no primeiro quanto no segundo trimestre, tivemos vendas maiores em todos os segmentos”, disse o CEO da Klabin, Cristiano Teixeira.

 

Foi no setor de bens não duráveis, como alimentação, bebidas e farmacêutico, que a utilização de embalagens de papel cresceu significativamente. No segundo bimestre de 2019, representava 79% do total comercializado. No mesmo período deste ano, pulou para 85%. No on-line, a alta foi impulsionada pelo acréscimo de cerca de 5,7 milhões de novos consumidores, segundo estudo da Neotrust/Compre&Confie, que foram às compras durante a pandemia. Mais consumo pelo computador reflete em mais embalagens.

 

Na plataforma virtual da companhia, o reflexo foi percebido desde o início da quarentena. Entre março e junho, o fluxo de visitas na rede da Klabin cresceu 60%. Nos últimos dois meses, a venda de embalagens personalizadas para food service delivery e take away quadruplicou, o que já representa 15% das vendas de embalagens do site. A Klabin registrou, nos primeiros três meses deste ano, R$ 2,6 bilhões de receita líquida, alta de 4% em relação ao primeiro trimestre de 2019. Metade do resultado vem da exportação dos produtos e a outra, do mercado interno. A empresa também está entre os maiores fornecedores do mundo de papel-cartão para a gigante sueca Tetra Pak, líder global de embalagens de alimentos e produtos líquidos.

 

Única da América do Sul a fornecer à companhia sueca, ampliou sua participação a partir da necessidade de mais insumos para atender à demanda mundial. “A Klabin foi a empresa mais preparada para reagir à demanda da Tetra Pak e conseguiu operar com 30% mais vendas do que o normal”, afirmou Teixeira. A perspectiva, no entanto, é de que haja acomodação no segundo semestre, devido à estabilidade de consumo, diferentemente do cenário percebido nas primeiras semanas após o início do confinamento.

 

E-COMMERCE Segundo a presidente da Associação Brasileira do Papelão Ondulado, Gabriella Michelucci, o estoque inicial de suprimentos, feito no início da pandemia, e a corrida pelo computador explicam o crescimento inicial. “Antes da pandemia, o e-commerce representava de 4% a 5% das vendas do varejo. Hoje, chega perto de 7%, o que mostra o crescimento da demanda por papelão”, disse Gabriella. A perspectiva de crescimento em 2020 é bem mais tímida, na casa de 0,3% sobre os 3,6 milhões de toneladas de papelão ondulado expedidos pelas empresas do setor, segundo pesquisa da Fundação Getulio Vargas encomendada pela ABPO. Levando-se em conta que o Produto Interno Bruto (PIB) deve encolher 6,5% no ano, segundo o Boletim Focus, o saldo positivo do segmento, ainda que mínimo, pode ser visto como bom. “Esse resultado é de um cenário moderado, considerando a perspectiva para o segundo semestre. Depende, também, de como será o consumo daqui em diante”, afirmou ela.

 

Se, por um lado, houve acréscimo de vendas de papéis e embalagens a partir das vendas on-line, por outro, a pandemia trouxe diminuição no volume de sacos de cimento – setor do qual a Klabin tem 60% do mercado. É que, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Cimentos (SNIC), o mercado encolheu 5,8% no primeiro trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, em virtude da paralisação da construção civil por causa da crise do coronavírus. Com a retomada gradual, a expectativa é de que nos próximos meses o volume volte a patamares registrados antes da pandemia.

 

INVESTIMENTO Foi em 2019, num cenário em que ainda se falava em crescimento da economia e não em recessão, que a companhia fez o maior anúncio de investimento de sua história: o projeto Puma II, pelo qual serão alocados, até 2023, R$ 9,1 bilhões para a construção da unidade onde serão instaladas duas máquinas de papéis para embalagens, com capacidade anual de 920 mil toneladas. Dos R$ 820 milhões de investimentos realizados no trimestre, R$ 527 milhões foram destinados ao Puma II. Mas nem tudo foi positivo para a Klabin em 2019. No início do ano passado, a companhia assistiu ao anúncio da fusão da concorrente Suzano com a Fibria, que resultou na maior empresa produtora de celulose de eucalipto do mundo, o que fez com o preço do papel atingisse preços abaixo do esperado, por causa do grande volume de material estocado pela empresa. “Os preços não se recuperaram até então, em virtude do aumento do estoque da Suzano”, afirmou Cristiano Teixeira.

 

Para aumentar sua participação no mercado, a Klabin concretizou, em março, a aquisição da unidade de negócios de embalagens da International Paper no Brasil, por R$ 330 milhões. Com a compra, que ainda aguarda aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a empresa aumentará o market share de 18% para 24%, além de alcançar capacidade instalada de 1 milhão de toneladas de papel ondulado ao ano. Com 18 unidades industriais no Brasil e uma na Argentina, a companhia é responsável por 498 mil hectares, dos quais 240 mil hectares são de mata nativa. Segundo a empresa, são preservadas 883 espécies de animais e quase 1,9 mil de plantas, além de 258 mil hectares de área plantada de eucalipto e pinus, de onde saem os seus produtos.

 

De um lado preservação ambiental, de outro a aposta em inovação. Uma das mais recentes iniciativas surgiu no centro de tecnologia da companhia, no Paraná. Pesquisadores da empresa, em parceria com o Instituto Senai de Inovação, desenvolveram uma formulação inédita de álcool gel a partir de celulose microfibrilada, que substitui o carbopol, elemento químico essencial para a produção e que começou a faltar no mercado, por causa da grande demanda. Foram produzidas 4 toneladas para distribuição a 24 mil profissionais de Saúde no País. Não está nos planos da companhia produzir álcool gel, mas sim fornecer o insumo para empresas do segmento.

 

Os números da Klabin e do próprio segmento de papel e celulose poderiam ter sido bem diferentes no período de isolamento, não fosse por um detalhe: inicialmente, o setor de papel e celulose não foi considerado como essencial pelo governo federal, mesmo sendo fundamental para garantir a manutenção de boa parte da cadeia varejista brasileira. Foi necessário que o CEO da companhia avisasse a ministros, por carta, que para o varejo seguir vendendo seria necessário ter papel para embalar os produtos. “Não adianta ter o ovo se não tem a caixa do ovo”, disse Teixeira. Gabriella, da ABPO, endossa. “Se não houvesse a liberação da fabricação de embalagens, haveria uma ruptura total para a indústria.” Foi preciso alguém dizer isso para que o presidente da República e sua equipe chegassem à conclusão elementar que, sem papel, não tem entrega.